O futuro do Twitter e sua influência na geopolítica mundial

Após o recente anúncio de compra do Twitter pelo homem mais rico do mundo, é sensato pensar que poderemos presenciar nos próximos anos impactos na tecnologia, na economia e na política.

Ao desembolsar 44 bilhões de dólares para a aquisição da rede social, o sul-africano Elon Musk se afirma como dono de uma das ferramentas de comunicação mais potentes e influentes do século 21 e sinaliza que tem objetivos variados, mas bem definidos, com a negociação.

Apesar das declarações de Musk de que a compra tem como finalidade aumentar a liberdade de expressão dentro da plataforma, mantendo-se afastado da política, uma mistura de outros interesses do multibilionário pode fazer com que o futuro do Twitter impacte diretamente na geopolítica mundial e nas nossas vidas.  

Por que o Twitter é tão especial?

A dinâmica do Twitter ao propor pequenos textos que estimulam e promovem conversas em tempo real talvez seja seu principal diferencial, tornando-o popular entre celebridades, políticos e líderes mundiais.

Tudo se deve à “meia-vida” dos conteúdos na plataforma, que é o termo para definir o tempo que se leva para atingir 50% de seu engajamento total, medido por meio de métricas baseadas em popularidade. A meia-vida de um tweet costuma ter 20 minutos, muito menor do que as 20 horas no Instagram ou 24 horas no LinkedIn, por exemplo.

Dessa forma, seus textos e threads são atualizados instantaneamente e mostrados em ordem cronológica, o que torna a rede social um histórico de registros e um verificador de notícias que tem o poder de interferir em toda a dinâmica global, principalmente quanto à censura e independência na era da comunicação digital.

Liberdade de expressão x Controle de informações

Musk sempre fez questão de enfatizar que, ao adquirir a plataforma, iria diminuir o uso de marcações ou remoções de conteúdos inapropriados. Também prometeu combater perfis robôs e fakes, levantando a hipótese de verificar todos os usuários.

Entretanto, o empresário é um grande doador do American Civil Liberties Union, entidade ligada à ala conservadora norte-americana que apoia que todos os candidados e políticos possam ter acesso ilimitado às mídias sociais, independentemente dos riscos.

Além disso, nos últimos tempos ele propagou diversas ideias da extrema direita, como atacar a forma politicamente correta como a Netflix começou a abordar assuntos como sexualidade, desigualdade de gênero e racismo. Maus sinais.

Política e Democracia

Não é delírio suspeitar que Elon Musk possa reativar a conta do ex-presidente estadunidense Donald Trump, que foi banido permanentemente do Twitter após a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021. 

Afinal, o sul-africano já afirmou que seria muito cauteloso em relação aos banimentos na plataforma. Mas engana-se quem pensa que a pressão viria só dos Estados Unidos. 

Há dois anos, o Twitter adotou medidas para diminuir o alcance de publicações de membros do governo e meios de comunicação chineses. E o que isso tem a ver com Musk? 

Conflitos de interesses econômicos

Elon Musk é, dentre outras empresas, dono da Tesla, empreendimento que tem fortes objetivos de comércio na China e que, para serem atingidos, precisariam do apoio do presidente Xi Jinping. 

Apesar das promessas de não interferir negócios com decisões referentes à comunicação e política, não faltam exemplos de ricaços que compraram meios de comunicação que, posteriormente, passaram a ser usados com interesses pessoais, como o caso do dono da Amazon, Jeff Bezos, quando comprou o jornal Washington Post, em 2013, ou, indo ainda mais ao passado, ou de Rupert Murdoch, que virou acionista majoritário do New York Post no longínquo ano de 1976.

Tudo isso, somado às atitudes recentes de Elon Musk, não nos mostra um horizonte otimista para o futuro da democracia global, onde o controle das informações tem passado por mãos ávidas e dedos espertos, sempre prontos para extrapolar os limites de 280 caracteres em prol de seus interesses.